A HISTÓRIA DO EXU DO LODO



A HISTÓRIA DO EXU DO LODO:

EXÚ REI E SUA ESPOSA DECIDIRAM ANDAR PELO MUNDO PARA VERIFICAR A QUALIDADE DO TRABALHO QUE REALIZAVAM SEUS SÚDITOS. DISFARÇARAM-SE E SEGUIRAM POR CAMINHOS DIFERENTES. A POMBA GIRA RAINHA CAMINHAVA POR UMA TRILHA QUANDO SE DEPAROU COM UM GRANDE PÂNTANO, SUJO E PODRE, QUE LHE IMPEDIA DE SEGUIR EM FRENTE. PERDEU-SE EM PENSAMENTOS IMAGINANDO COMO FAZER PARA ATRAVESSÁ-LO. DE REPENTE, SURGIU A SUA FRENTE UM HOMEM, COM A APARÊNCIA DE UM ERMITÃO, BASTANTE DESPENTEADO E MALTRAPILHO. A IMAGEM SOMBRIA DO DESCONHECIDO A ASSUSTOU A PRINCIPIO, MAS LOGO FICOU LISONJEADA, QUANDO ELE, RAPIDAMENTE, RETIROU SUA CAPA E A JOGOU SOBRE O LAGO PARA QUE ELA PUDESSE PASSAR. NESSE INSTANTE ELA PODE VER NOS OLHOS DELE UMA GRANDE DESOLAÇÃO. A RAINHA CAMINHOU POR SOBRE A LONGA CAPA E SEGUIU SEU CAMINHO SEM OLHAR PARA TRÁS. ATÔNITO E FASCINADO PELA BELEZA DAQUELA ESTRANHA MULHER QUE NUNCA TINHA VISTO, O HOMEM, QUE ERA EXU DO LODO, SENTIU O AMOR INVADIR-LHE O PEITO. A SOBERANA CHEGOU AO PALÁCIO E CONTOU AO MARIDO O QUE TINHA DESCOBERTO: - CONHECI UM SER NOBRE QUE CUIDA DE UM PÂNTANO IMUNDO. QUANDO UMA PESSOA CHEGA A ESSE CHARCO PESTILENTO, DO NADA ELE VEM E AJUDA A PESSOA A SUPERAR OS OBSTÁCULOS. EU VI A TRISTEZA EM SEUS OLHOS POR TER UM LOCAL COMO AQUELE PARA CUIDAR, MAS, NO ENTANTO, FAZ O SEU TRABALHO COM CUIDADO. TEM UMA FIGURA, CURVA, MALCHEIROSA E BRUTA, MAS É HUMILDE E CORTÊS. EXÚ REI, IMPRESSIONADO PELAS PALAVRAS DA MULHER, RESOLVEU CONVIDAR O ESTRANHO HOMEM PARA UM JANTAR NO PALÁCIO REAL. SUA INTENÇÃO ERA PREMIÁ-LO POR SUA DEDICAÇÃO À MISSÃO QUE LHE TINHA SIDO IMPOSTA E PELO RESPEITO À SUA ESPOSA. ORDENOU ENTÃO AO GENERAL DE SEU EXÉRCITO, QUE FOSSE ATÉ AO PÂNTANO, LEVANDO O CONVITE. CHEGANDO À MANSÃO REAL, EXU DO LODO SURPREENDEU-SE AO NOTAR QUE A ESPOSA DE SEU SOBERANO ERA A MULHER QUE ELE AMAVA. A DOR, AO MESMO TEMPO, INVADIU-LHE A ALMA. SABIA QUE TINHA DE ESQUECÊ-LA PARA SEMPRE. NAQUELA NOITE, EXU REI O CONDECOROU E LHE DEU A HONRA DE SE SENTAR À SUA DIREITA. E DESDE ENTÃO, É ESSE O LUGAR QUE ELE OCUPA, MANTENDO A BASE DO TRONO DE SEU MONARCA. POMBA GIRA RAINHA DEU-LHE UM LENÇO PERFUMADO COM SEU AROMA, PEDINDO QUE ELE GUARDASSE NELE SUAS LÁGRIMAS, E AO RETORNAR À SUA MORADA, O JOGASSE NO MEIO DO PÂNTANO. NAQUELA NOITE, ENQUANTO VOLTAVA, CABISBAIXO, PENSAVA NO AMOR QUE DEVERIA ESQUECER, QUANDO AS LÁGRIMAS CORRIAM, AS LIMPAVA COM O LENÇO PRESENTEADO. AO CHEGAR, JOGOU O LENÇO SOBRE A LAMA E FICOU A OBSERVÁ-LO DESLIZANDO SOBRE O CHARCO. DO LENÇO SAÍRAM TODAS AS SUAS LÁGRIMAS E ESPALHARAM-SE POR SOBRE A ÁGUA SUJA, ESPALHADAS COMO UM COLAR DE PÉROLAS QUE SE QUEBRARA. NA MANHÃ SEGUINTE, ELE ENCONTROU NO LOCAL ONDE TINHA ATIRADO O LENÇO UMA PLANTA, E AS SUAS LÁGRIMAS DISPERSAS, ERAM BOTÕES FLORAIS QUE SE COLAVAM À ELA. CONSIDEROU UM PRESENTE DE SUA RAINHA E ASPIROU A FRAGRÂNCIA DO SEU AMOR. DEPOIS DE ALGUM TEMPO, A HISTÓRIA REPETIU-SE. UMA MULHER QUE CIRCULAVA POR AQUELE MESMO CAMINHO E DE REPENTE ESTACAVA EM FRENTE AO CHARCO. SOLICITO COMO SEMPRE, EXÚ DO LODO SAIU DE SEU ESCONDERIJO E OFERECEU-LHE A CAPA. AO FITAR A BELA MULHER, DESCOBRIU EM SEUS OLHOS A SIMPATIA QUE ELE TANTO BUSCAVA, E SEM PENSAR DUAS VEZES, CORTOU ALGUMAS DE SUAS FLORES E OFERECEU-AS À ELA. EMOCIONADA A MULHER SORRIU E OLHOU-O COM CARINHO. ERA, MARIA MOLAMBO, QUE A PARTIR DAÍ, NUNCA MAIS O DEIXOU SOZINHO.